Pink Floyd e as inovações de Dark Side of The Moon


Pink%20Floyd%20-%20Dark%20side%20of%20the%20moonEfeitos inusitados e inéditos, técnicas arrojadas e muita criatividade fizeram de Dark Side of The Moon um marco na história da produção fonográfica

A banda inglesa Pink Floyd iniciou suas atividades na década de 1960 como um conjunto de rock que, gradualmente, foi desenvolvendo seu lado experimental e psicodélico até a gravação do primeiro disco, The Piper at the Gates of Dawn, em 1967. Já durante a turnê, o guitarrista David Gilmour substituiu o compositor e líder do grupo, Syd Barrett, que perdeu sua sanidade por causa do abuso de drogas.

A banda passou por um grande período de busca por uma nova identidade com a saída de seu principal membro. Vários álbuns e turnês depois, eles atingiram o auge de suas carreiras – segundo eles próprios – com a criação do Dark Side of The Moon.

 

Detalhes

O disco abre com o som de um coração batendo, acompanhado de algumas falas e sintetizadores. Esses sons permeiam o disco todo e “amarram” as faixas, mantendo uma coesão sonora que se interrompe apenas no meio do álbum, por causa dos dois lados do disco de vinil. O coração batendo foi gravado com o bumbo da bateria processado e é um dos primeiros samples em loop do rock. Ele pode ser ouvido ao longo de todo o disco – algumas vezes em destaque, outras em volume quase imperceptível.

EMS_VCS3Muitas músicas apresentam experimentações inovadoras de estúdio. Uma delas é “On The Run”, faixa instrumental em que foi usado um dos primeiros sintetizadores portáteis comercializados, o EMS VCS3. Com ele, era possível tocar um pequeno trecho em um teclado e repeti-lo indefinidamente, acelerando-o e alterando sua sonoridade com osciladores.

Essa é a essência e o segredo dessa música, que buscava, segundo a banda, o “som do futuro”. Mas não é a única ferramenta para a sonoridade atingida. Além do VSC3, foram usados vários efeitos diferentes, como o som de uma pessoa correndo em volta de um microfone no estúdio e muitos outros de guitarra, que soam como sintetizadores ou processos alternativos.

Outra experimentação muito bem-sucedida é a da música “Money”. Graças ao riff de baixo, poucos ouvintes percebem que ela tem uma pulsação pouco usual para uma banda de rock. Fora o solo de guitarra, em que o grupo toca em 4/4, a música é em 7/8, e certamente, é um dos maiores sucessos comerciais em compasso alternado.
Apesar de o disco ser uma grande criação coletiva, todas as letras são do baixista Roger Waters. Ele gravou a maior parte das criações em um estúdio portátil antes de levar as versões finais do texto para a banda. O original de “Money”, por exemplo, pode ser encontrado em alguns bootlegs importados.

gilmour1-1100Algumas técnicas de estúdio foram aperfeiçoadas durante a produção. Uma delas foi a gravação de vozes repetidamente. Utilizada originalmente para aumentar a força de uma única voz, foi usada juntamente com muito reverb para ampliar a espacialidade, já que, nesse período, ótimos compressores estavam sendo amplamente empregados. A voz do guitarrista David Gilmour pode ser claramente ouvida fazendo harmonias com ela mesma na maioria das músicas. Acompanhado pelo tecladista Richard Wright, esse efeito criou a sonoridade de voz da banda nesse período.

Uma operação cirúrgica de corte e colagem de fita resultou nos loops de moedas e caixas registradoras ouvidos em “Money”. Para obter o tempo correto das amostras, um gravador de rolo foi adaptado para tocar um trecho de fita circular, que atravessava a sala por conta de seu tamanho, dando a volta sustentado por um tripé de microfone.

Outra incrível manobra para produzir sons inéditos à época foi a introdução de “Time”. Para obter o efeito de vários relógios tocando juntos, vários reprodutores de rolo foram espalhadas pelo estúdio, com sons de diferentes relógios. Uma orquestração organizada pelo engenheiro de som Alan Parsons resultou em uma cacofonia organizada de alarmes.

As músicas foram desenhadas para criar um conjunto, estabelecendo a premissa de disco conceitual para o Pink Floyd que seguiria nos principais discos de sua carreira. Para aumentar a coesão, Roger Waters elaborou um baralho com questões escritas, e entrevistou várias pessoas presentes às gravações – porteiros, técnicos de som e até Paul McCartney, que gravava na sala ao lado. No baralho, questões simples como “o que você comeu ontem?” até a preferida de Waters, “quando foi a última vez em que você foi violento?”. O produto dessas entrevistas são as frases que atravessam o disco todo.

Não havia nenhuma automação na mesa de som e organizar esse mar de canais de efeitos e instrumentos demandou toda a banda na console durante a mixagem. Um grande painel era criado, com a instrução dos canais ao longo da música. No fim, a mixagem era muito parecida com uma performance, com várias pessoas controlando faders em tempo real.

É importante perceber que nenhuma música do disco é extremamente complexa. Ao contrário. A tentativa da banda era sempre deixar espaço – o que era preenchido com efeitos e timbres inéditos. Assim, muito mais do que a maioria dos discos, Dark Side of The Moon tem sua essência extremamente ligada ao trabalho realizado em estúdio de utilização criativa de equipamentos e pesquisa sonora. Por sua qualidade técnica, ainda é utilizado por muitos produtores e audiófilos como referência sonora.

Dark Side of The Moon é o álbum recordista de tempo nas paradas britânica e americana e o terceiro mais vendido na história da música. Lançado em 1973, o disco ficou quase 14 anos entre os 200 mais vendidos nos Estados Unidos e, até hoje, vende uma média de quase dez mil cópias por semana. O álbum ocupa um lugar especial na história da música pop também pela mitologia criada a seu redor.  É impossível falar desse disco sem citar a misteriosa sincronicidade com o filme  O Mágico de Oz, de 1939. Segundo a lenda, o disco serviria como trilha sonora quase perfeitamente sincronizada para o filme. A verdade é que ao iniciar a reprodução de The Dark Side of The Moon quando o leão da Metro-Goldwin-Mayer acaba de rugir pela terceira vez na vinheta de abertura, uma série de “coincidências” ocorre entre a as composições do grupo e as cenas, tanto que essa experiência é conhecida como The Dark Side of The Rainbow (lembrando o arco-íris da canção “Over the Rainbow”, a mais famosa do filme). Difícil é imaginar em que situação a experiência foi realizada pela primeira vez…

Assista no vídeo abaixo, antes que bloqueiem…

Talvez o melhor momento esteja aqui:

 

 

 

 


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