PianOrquestra – música a dez mãos


PianOrquestra_DivulgacaoAclamado pela crítica especializada mundial como um dos grupos mais inovadores do atual cenário da música instrumental brasileira, o PianOrquestra se destaca pela originalidade e qualidade com um trabalho que envolve quatro pianistas, uma percussionista e o protagonista: um piano preparado

Com luvas, baquetas, palhetas de violão, fios de náilon, sandálias de borracha, peças de metal, madeira, tecido e plástico, o PianOrquestra explora as infinitas possibilidades de timbres e sonoridades produzidos pelo piano,  transformando o instrumento em uma orquestra. O trabalho idealizado pelo pianista e Mestre em Piano Claudio Dauelsberg é fruto de uma pesquisa iniciada com alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com base nas técnicas de piano preparado e piano expandido popularizadas por John Cage no início do século.

As técnicas são aplicadas de maneira lúdica e criativa, resultando num trabalho pioneiro na música popular brasileira, visando expandir a comunicação com plateias de todas as faixas etárias. O grupo explora o sincronismo que envolve dez mãos tocando simultaneamente durante a performance. A execução acontece por todas as partes do instrumento, como o interior e a parte inferior da caixa do piano, alé, obviamente, das teclas. Os timbres variam de acordo com os objetos inseridos, especialmente construídos para as sonoridades desejadas.

claudiodauelsberg_miniaturaFormado atualmente pelas pianistas Marina Spoladore, Priscila Azevedo e Anne Amberget, e pela percussionista Masako Tanaka, o grupo segue liderado por seu criador, com quem conversamos para saber detalhes sobre o trabalho.

Como você define o PianOrquestra?
O PianOrquestra já passou por três gerações diferentes. E foi bem além como projeto do que o inicialmente planejado. É curioso ele ter nascido em ambiente praticamente universitário e diante de uma circunstância que é  em  brasileira: a falta de pianos. A gente tem que ser criativo. Há muitos alunos para atender e isso acaba gerando ideias. Obviamente dentro disso há um trabalho de altíssima pesquisa. Todas as integrantes do PianOrquestra tem mestrado, caminhando para o doutorado em Música. E há muita pesquisa por trás. Acabamos de vir do maior festival de piano da Europa (Festival Internacional de Piano La Roque D’Anthéron), onde só tocam os grandes nomes da música clássica, com 3.500 pessoas em um teatro no meio de um parque floral… É interessante porque
o único brasileiro que havia tocado lá foi Nelson Freire, um dos dez maiores pianistas do mundo. E o PianOrquestra acabou se apresentando nesse palco.  Quando subimos no palco, falei para as meninas: “Respirem fundo e vamos fazer o que sabemos, com o que conquistamos. É algo que ninguém no mundo faz e é isso que eles querem ver”. E foi lindo. Acabamos dando três bis, mais do que o Volodos que é um dos dez mais do mundo, que tocou na noite anterior (risos). Foi muito interessante. Então, que a gente percebe hoje, é que o PianOrquestra nos leva a lugares que talvez não iríamos como pianistas. Esse coletivo mostra um caminho importante, que o  undo está interessado em ver.

PianOrquestra 02 - Picture Marcia MoreiraA união de linguagens do PianOrquestra afasta o grupo do conceito tradicional de recital? Isso chama a atenção do público tanto no Brasil quanto lá fora?
Há uma preocupação em relação à comunicação com o público. Há a preocupação de que haja esse contato de forma que o público possa interagir e participar, pela música, pelos estímulos visuais, efeitos sonoros, dança… Essa variação é feita com esse objetivo: ter o público conosco. E a gente percebe  que isso comunica bem muitas vezes, com a família inteira. Certa época, o governador nos chamou para tocar em todas as escolas da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Isso é interessante, mais do que um pianista com um piano. Isso funciona como instrumento educativo, apresentado em todas as áreas, com todo o estímulo visual. As crianças ficam mais ligadas. O  PianOrquestra mexe com alta performance, são ótimos pianistas, mas que trabalham também com o coletivo e que souberam dividir as 88 teclas (risos). Acredito que misturar é uma necessidade hoje. Temos uma geração “Y”, vamos colocar assim, que nasceu dentro de um ambiente de conectividade. Eles têm um anseio diferente. Não é natural para eles  entrar em um teatro e criar a experiência da profundidade, de uma imersão profunda. Eles têm certa dificuldade com  isso. Nós temos que orientar essa geração “Y” nessa direção. Eles já foram criados em um ambiente muito superficial, porque há muita informação chegando o tempo todo, então eles têm, naturalmente, esse impulso para conectar, intermediar…Tudo  tem que ser em altíssima velocidade. Há uma tendência de mudança na forma de se perceber a cultura muito em função dessa nova geração que está chegando à universidade agora, ascendendo de um ambiente conectivo. Isso afeta todas as áreas, como o vinho, o esporte, os livros, a música. É uma mutação, real. Cabe a nós – e isso pode até ser entendido como uma guerra entre o velho e o novo, mas não é – ajudar em experiências mais divertidas em busca da profundidade. Ou seja, nesse embate de gerações, a função dos mais velhos é procurar fazer o encontro no meio do caminho, ajudar a nova geração que chega com um potencial imenso de velocidade e vontade de interagir. Eles não se importam em abandonar a individualidade deles em prol de uma coletividade. Enfim, existem novos anseios de uma geração que está chegando ao mercado e busca por coisas diferentes. O PianOrquestra é um pouco disso tudo. É um projeto que nasceu, único no mundo. Fomos  riando  literatura para ele, possibilidades. Hoje vemos outras iniciativas acontecendo nessa área, com estilos diferentes, mas ficamos felizes que esse modelo está ai.

PianOrquestra 01 - Picture Rodrigo TorresComo é a preparação do piano?
As pessoas perguntam se destruímos o piano… Não destruímos! Tudo é feito com muito cuidado, muito zelo. Quando há uma percussão mais alta, o pessoal acha que estamos “surrando” o instrumento. Na verdade, não. Há vários microfones colocados dentro da caixa do piano. É um trabalho muito bem cuidado. A microfonação é feita por setor, para que se possam amplificar áreas que não tem muita sonoridade, como as baquetinhas que produzem um som muito mais baixo do que quando se toca o piano com as teclas. Quando se toca uma percussão embaixo do piano, é preciso compensar um pouco. Há uma preocupação muito grande. Ninguém seria louco de colocar um instrumento valioso em casa para estudo e colocá-lo em risco. Temos até cartas de fabricantes atestando que não danificamos o instrumento. Nossa forma de preparação é leve.

 

 

 

 

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