Princípios básicos da mixagem


downloadConhecer os princípios básicos da mixagem permite ao tecladista criar uma imagem em três dimensões de uma produção de áudio

O objetivo da boa mixagem é fazer que todos os canais gravados sejam misturados e enviados para apenas dois, de forma que fiquem audíveis, mantendo a transparência sonora. É considerada uma arte por todos os profissionais do ramo, pois sabe-se que ali é transmitida a “personalidade” musical do responsável por ela. Por isso, não há uma regra específica para realizá-la. Mas existem princípios básicos que podem facilitar o caminho.

 

O princípio

É interessante ouvir todos os canais algumas vezes, fazendo alguns ajustes rápidos de volume para sentir a música e tentar criar ideias sobre de que tipo de efeitos ela irá precisar e que sonoridade será criada.

O primeiro passo é o de identificar qual é o elemento principal da música que será mixada. Geralmente é a voz. Um bom motivo pelo qual se deva começar por ela é que, se for deixada por último, seu espaço no conjunto sonoro ficará reduzido quando seu momento chegar, dificultando seu posicionamento em relação aos outros instrumentos. Deve-se utilizar também os principais recursos disponíveis justamente para destacar melhor o elemento principal do processo. Deixá-lo por último pode causar uma deficiência de recursos, por terem sido utilizados anteriormente em elementos de menor importância. Em um home studio que possui apenas um módulo de reverb, por exemplo, o músico o utiliza para fazer um preset (configuração) que fica muito bem com a bateria, mas descobre, no fim do processo, que esse efeito para a voz a faz soar muito distante. Como não há outro módulo para programar um preset melhor, ou ela vai ficar assim mesmo ou ele terá de começar tudo de novo.

 

O meio

Tendo ajustado o elemento principal, começa-se a construir a mixagem em torno dele, garantindo que ele sempre estará presente ou, pelo menos, nunca encoberto de maneira indesejada. Geralmente, segue-se ajustando os instrumentos da base rítmica da música (baixo, bumbo e o resto da bateria) para depois passar aos mais harmônicos, como teclados, piano e guitarras.

O choque de frequências entre eles é o motivo principal da falta de definição de uma mixagem e, portanto, deve-se evitá-lo ao máximo. Pela equalização, isso é controlado. A equalização é um recurso muito poderoso no momento da mixagem e pode tanto melhorá-la como arruiná-la. Algumas mesas mais avançadas possuem equalizadores paramétricos, nos quais o usuário pode escolher com qual frequência quer trabalhar. Eles são muito úteis para fazer uma varredura e ouvir o que está agradável e desagradável em um instrumento gravado. Em um canal, por exemplo, no qual está o bumbo de bateria, aumentam-se vários dBs de um potenciômetro relativo aos graves. Em seguida, utiliza-se o controle de escolha da frequência e, girando-o de um lado para o outro, lentamente, é feita a varredura. Assim, torna-se fácil ouvir elementos indesejáveis no som captado. Sabe-se que um corte na faixa entre 300 e 400 Hz no som de bumbo e instrumentos graves faz que eles soem mais limpos, porém, se esse corte for exagerado, todo o seu “corpo” é cortado conjuntamente, perdendo seu peso e presença.

Digamos que o bumbo e o baixo de uma música estão se misturando e não se consegue distinguir um do outro. Pode-se primeiro solar o bumbo (selecionando a chave solo) e verificar que, ao aumentar os 80Hz, ele torna-se mais presente. Então, aumentam-se alguns decibéis nessa frequência, evitando o excesso (geralmente até 3dB costumam ser o ideal). Depois, no canal do baixo, reduz-se a mesma quantidade nessa frequência. Dessa forma, os dois instrumentos dividirão esse espaço melhor. Pode-se, então, fazer o inverso nas médias, ou seja, tirar do bumbo alguns dB, em torno dos 2500Hz, e dar para o baixo. Tocados em conjunto, eles se tornam mais presentes e definidos.

A melhor maneira de equalizar os instrumentos é ouvi-los em conjunto com os outros e notar como interagem. Muitas vezes, após a equalização, alguns deles soam de forma estranha quando são solados, de maneira que jamais alguém iria equalizar se estivesse tocando sozinho. Aí é que está, portanto, o fator chave de uma mixagem. Para reduzir 32 canais em dois, será necessário garantir um pequeno espaço para cada um deles e o importante aqui é verificar como soam em um conjunto e não individualmente.

 

3D1O fim

Se for considerada a impressão de que frequências baixas vêm do chão – elas fazem o solo e as estruturas vibrarem, dando a sensação de que vem de baixo de nós -, as médias estão mais acima – são sentidas na altura do peito – e as altas direcionadas à nossa cabeça, a equalização pode ser considerada como a primeira das três dimensões da mixagem.

O posicionamento horizontal do som entre o lado direito, o esquerdo e o centro será a segunda. Pelo pan de cada canal, pode-se posicionar o sinal dentro do espaço dos dois monitores. Quando instrumentos com frequências muito semelhantes dividem uma mixagem, nem sempre é possível diferenciá-los na equalização. Nesse caso, pode-se colocá-los em posições diferentes do campo estereofônico. Por exemplo, uma guitarra e um piano podem ser bem semelhantes, dificultando a definição de cada um em uma mixagem, mas, posicionando um entre a metade do centro e o lado esquerdo e o outro entre a metade do centro e o direito, eles tornam-se mais audíveis. Quando um instrumento estéreo é gravado, são necessários dois canais para que ele continue possuindo essa propriedade. Durante a mixagem, cada canal deve estar posicionado ao extremo de um dos lados para que sejam reproduzidos corretamente. De maneira geral, teclados possuem timbres em estéreo e, para mantê-los originais, tem de ser feito dessa forma. No entanto, utilizar muitos instrumentos assim causa uma grande congestão sonora em ambas as extremidades, criando novamente problemas de definição. Além disso, a mixagem torna-se pobre, ao contrário de quando há vários elementos em pontos diferentes do campo auditivo. Por isso, muitas vezes, gravar sons de teclados em mono, para tê-los posicionados de uma melhor forma depois, pode vir a ser um bom truque.

Em seguida, a intensidade do sinal, que é controlada pelo fader, cria a dimensão de profundidade. Instrumentos com volumes baixos trazem a impressão de estarem mais afastados e com níveis mais altos a sensação de proximidade. Com isso, pode-se atingir bons resultados numa mixagem, mas, acrescentando os elementos de dinâmica e efeitos, ela se torna completa.

 

 

 


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