MIDI – História do protocolo


Conheça o protocolo que mudou radicalmente o mundo musical e contribuiu para a descoberta de novas formas de fazer música e se relacionar com ela

MoogCropNos anos 60 e 70, época em que os instrumentos utilizavam tecnologia essencialmente analógica, já se fazia uso de um padrão que possibilitava a comunicação entre dois equipamentos. Ao pressionar uma tecla, era gerada uma tensão elétrica que, por meio de um cabo, acionava a mesma nota no outro instrumento. Isso tornava possível misturar sons. Cada nota (tecla) possuía sua tensão correspondente e o aumento da tensão em 1 volt fazia o instrumento responder uma oitava acima.

Um bom exemplo é o famoso Moog com seus sistemas modulares, em que vários osciladores (geradores de onda) podiam ser controlados ao mesmo tempo por uma única tecla. Mas esse sistema só funciona com instrumentos monofônicos (que reproduzem apenas uma nota por vez). Se fosse preciso transmitir várias notas ao mesmo tempo, seria necessário um cabo pra cada nota, o que era inviável.

Com o surgimento dos sintetizadores polifônicos (que reproduziam mais de uma nota ao mesmo tempo), no final dos anos 70, que já incorporavam microprocessadores digitais para a geração de sons, surgiu a idéia de expandir o uso deles para algum tipo de transferência digital de dados entre os instrumentos e, até mesmo, com o computador.

prophet600O primeiro instrumento musical com interface MIDI comercializado foi o Prophet-600, lançado em dezembro de 1982 pela Sequential Circuits. Isso ocorreu antes mesmo da publicação da MIDI specification 1.0, a especificação dos comandos do padrão MIDI definidos após um encontro no Japão, em 1983, entre membros da Roland, Yamaha, Korg, Kawai e Sequential. Ela, por sinal, vem sendo ampliada até hoje, com a inclusão de novos comandos e servindo de base tecnológica para novos protocolos como o XMIDI, e os padrões DLS e NIFF.

Aplicações
A aplicação mais simples do MIDI se dá quando se conecta um teclado (controlador ou mestre) a outro (receptor ou escravo), a fim de obter a soma dos sons dos dois instrumentos para criar um terceiro timbre. Muitas pessoas se confundem e acham que o som do teclado controlador quando tocado, sairá pelos outputs (saídas) do receptor (o que, na verdade, não acontece). Cada instrumento envia seu som, separadamente, por suas respectivas saídas, sendo necessário utilizar um mixer para ouvir ambos os teclados.

O sistema MIDI não envia áudio, mas comandos digitais. Todos os eventos que o músico executa no teclado controlador são enviados pelo conector MIDI OUT para a entrada do teclado escravo MIDI IN, que decodifica as informações e as transmite ao instrumento. O teclado receptor, por sua vez, recebe os comandos e os executa como se tivessem sido tocados no próprio instrumento (alguns comandos não existentes no equipamento, como a alavanca de pitch bend em um piano digital, por exemplo, não podem ser executados ali. Mas o instrumento recebe essa informação e a executa quando vinda de um teclado controlador). Com a possibilidade de comunicação total e padronização dos comandos, o MIDI expande sua aplicação para muito além da conexão entre dois teclados.

DXPIIISPenlarged-2640db678ac3f4999bb61ed70144cf23Onde o MIDI está presente
Atualmente, esse padrão está implantado em quase todos os equipamentos musicais, desde teclados, pianos, módulos, baterias, guitarras, contrabaixos, mesas de som analógicas e digitais, periféricos como reverbs e delays, gravadores digitais, interfaces e softwares para computador, equipamentos de vídeo e até mesmo no acordeão. Ele é utilizado para troca de timbres, presets, regulagens de parâmetros específicos de cada equipamento, controle de volume, efeitos, sincronismo e muitas outras aplicações. Todo um estúdio pode ser interligado via MIDI, pois esse é um sistema muito estável. Isso sem falar na produção musical, que ganhou um forte aliado graças à praticidade de uso, o pouco espaço que uma música gravada em MIDI ocupa e a facilidade de utilizar um sequencer, seja em um teclado equipado com esse recurso ou por meio de um programa específico no computador (Cakewalk, Sonar, Logic, Cubase etc).

Interface MIDI USB Roland UM-ONE mk2

Interface MIDI USB Roland UM-ONE mk2

É possível, também, confeccionar partituras, rapidamente e com muita perfeição, simplesmente tocando a melodia, em lugar de ter que escrever uma música nota a nota. O MIDI contribuiu para o surgimento da era dos samplers (amostras de sons gravadas a partir do instrumento original como bateria, piano, violinos etc. e disparadas pelo teclado controlador), imprimindo muito mais realismo nas produções e substituindo, muitas vezes, o instrumento original.

SMF (Standard MIDI File)
Quando se fala em música MIDI, está se referindo a um conjunto de comandos gravados num seqüenciador que, quando executados e transmitidos a uma fonte geradora de som (teclado, módulo ou sintetizador virtual), utilizam os timbres deles para reproduzir a seqüência musical. Esses arquivos se chamam SMF (Standard MIDI File) e foram padronizados de acordo com o sistema MIDI, que possui 16 canais (tracks) de transmissão de dados (um instrumento para cada canal). Desse modo pode-se executar até 16 timbres diferentes para cada música MIDI. Dentro do SMF existem, ainda, todos os controles de mixagem de volumes, efeitos como chorus, reverb, delay, posicionamento estéreo (PAN), troca de timbres, letra da música, formula de compasso, andamento (tempo) e até controles específicos pra cada equipamento por meio das mensagens exclusivas (SysEx).

Uma das grandes vantagens dos arquivos MIDI, é que se pode gravar um SMF utilizando um teclado com sons simples e, depois, reproduzi-lo em um teclado com timbres profissionais, em um sintetizador virtual ou em um sampler. É possível gravar passo-a-passo ou em tempo real, editar até obter um execução perfeita, utilizar várias fontes sonoras e compartilhar essa música com qualquer pessoa rapidamente, pois esses arquivos, geralmente, são muito pequenos.

GENERAL MIDI
Para a compatibilidade de instrumentos entre os arquivos SMF, foi criado o General MIDI. O modo GM, como é chamado, consiste na padronização de uma lista de timbres básica, que estará presente nos instrumentos com essa especificação. São 128 sons listados e pré- configurados. Cada um ocupa uma posição que não se altera nos equipamentos compatíveis. Desse modo, o MIDI File (SMF) pode ser reproduzido sem haver problemas de troca de patches (timbres). Isso poderia causar muitas confusões como, por exemplo, gravar uma guitarra jazz no canal 5 e o outro instrumento reproduzir uma flauta, pois o número dos timbres não corresponde. A lista foi atualizada com o General MIDI Level 2 (GM2), atualmente com 256 instrumentos e nove kits de bateria.

Essa é uma forma de padronizar arquivos MIDI para que sejam tocados em qualquer instrumento compatível (como os MIDI Files da revista Teclado e Áudio). Quando o músico utiliza um teclado próprio e vai reproduzir a seqüência no mesmo equipamento, porém, ele pode usar e abusar dos melhores timbres que tiver nos instrumentos.


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