Mellotron – o precursor dos samplers


John Lennon - MellotronTalvez você nunca tenha ouvido falar do Mellotron e dos instrumentos Chamberlin, mas você definitivamente já ouviu muitos sons produzidos por eles

A memorável introdução de flautas em uma das obras-primas incontestáveis dos Beatles, “Strawberry Fields Forever”, não foi gravada realmente com vários flautistas tocando, mas sim com um único Mellotron, instrumento eletrônico de teclas fabricado entre os anos 1960 e 1980, um dos mais amados e odiados de todos os tempos. Ao contrário de um sintetizador convencional ou órgão eletrônico, o Mellotron reproduz seus sons a partir de amostras pré-gravadas em fitas magnéticas individuais. Foi desenvolvido a partir dessa tecnologia, com uma invenção do americano Henry Chamberlain, em 1946. Por fora, tinha aspecto de um órgão eletrônico comum, mas seu interior escondia uma ideia que provocaria uma verdadeira revolução na música das décadas posteriores: o teclado estava  “conectado” a 35 fitas magnéticas, cada uma com um loop de áudio de 8 segundos. A máquina podia ser carregada com vários “bancos de sons” armazenados nessas fitas, dando ao músico uma série de diferentes opções ao toque de um botão.

Antes do tempo dos “samplers eletrônicos”, o Mellotron era realmente a única maneira que um instrumento de teclado poderia ser usado para imitar um violino, ou uma pessoa cantando. E, ao contrário dos sintetizadores eletrônicos daqueles tempos, o Mellotron, era “polifônico”, o que significava poder tocar várias teclas ao mesmo tempo para reproduzir o som agradável de um acorde musical.

A mais antiga forma de tecnologia de amostragem é conhecida como “Replay Tape”, patenteada pela American Harry Chamberlin em 1949. Como diz a lenda, um dia enquanto tocava seu órgão em casa, Chamberlin utilizou um gravador para registrar seu modo de tocar. Depois de ter feito a gravação, teve um insight: “por que não construir uma máquina que reproduza as gravações desse (ou qualquer outro) som?”. Se ele podia colocar o dedo sobre o  botão “play” de um gravador de fita e obter uma clara gravação das notas de um órgão Hammond, então a lógica dizia que isso poderia ser aplicado às teclas de um teclado eletromecânico. E, se isso podia reproduzir o som de um Hammond, poderia fazer o mesmo com uma guitarra ou trombone.

A primeira máquina Chamberlain inspirada nessa ideia foi o modelo 100 Rhythmate. Foi inicialmente pensada para   mercado de órgãos domésticos, servindo consumidores que, sem habilidades musicais, mas com grande paixão pela  música, poderiam soar como uma orquestra num toque de mágica. Ao pressionar uma tecla, um mecanismo acionava o cabeçote que tocava a superfície de uma fita magnética, fazendo que qualquer som gravado em fita pudesse ser amplificado e reproduzido. Essa ideia simples permitiu que um instrumento imitasse  praticamente qualquer outro.

edit_mellotronSatisfeito com o sucesso dessa máquina, Chamberlin abriu uma loja e continuou a produção e o desenvolvimento de novos modelos, até a série “M”. A bem da verdade, o Mellotron surgiu graças à inciativa de Bill Fransen, um dos funcionários de Harry Chamberlin, que, no início dos anos 1960, levou um Chamberlin Musicmaster 600 (uma máquina dual-manual com 36 teclas) para o Reino Unido e o apresentou a uma empresa britânica dirigida pelos irmãos Bradley, perguntando se eles poderiam melhorar o design e o mecanismo das fitas magnéticas. Com a  resposta afirmativa dos irmãos e a fundação da empresa Streetly Electronics, o Musicmaster 600 tornou-se essencialmente o modelo Mellotron MkI que se conhece. Naquela época, os britânicos não sabiam que o instrumento tinha origem americana e era protegido por várias patentes, o que gerou certo estresse. Posteriormente, os Bradley e os Chamberlin chegaram a um acordo comercial em que ambas as empresas poderiam desenvolver as ideias iniciais em projetos futuros. Os Chamberlin, por exemplo, começaram a utilizar oito fitas de meia polegada com trilhas estéreo, enquanto o Mellotron se dedicou a desenvolver unidades mais acessíveis e portáteis.

14681_04O primeiro Mellotron teve o mesmo layout básico do Chamberlin 600, com dual manual, um com amostras de ritmo e faixas de background e o outro, da direita, com sons tipo lead, como cordas, flautas e vários sons de órgão. Os primeiros usuários logo começaram a modificar essa configuração, simplesmente substituindo as fitas de ritmo por  um conjunto extra de sons tipo lead. Um dos mais famosos exemplos da utilização de dois instrumentos leads em um Mellotron é a introdução de teclado de “Watcher of the Skies”, da banda Gênesis. Segundo Tony Banks, tecladista do grupo à época, a introdução dessa canção foi imaginada para tirar partido dos pontos fortes tonais do Mellotron Mk II que ele estava usando no momento, com o teclado da esquerda com gravações de acordeon e o da direita com violinos e metais. Por outro lado, provavelmente o som de ritmo mais famoso do Mellotron é a  introduçãode “Bungalow Bill” dos Beatles.

14681_02As unidades MkI e MkII são enormes, construídas em madeira escura, tipo órgão de armário, com dois alto-falantes de 12 polegadas, um amplificador interno e peso de aproximadamente 160 kg. O Mellotron M400 foi  lançado em 1970. Tratava-se de um instrumento menor, com teclado de 35 teclas, em cor branca de madeira polida. Trazia uma nova biblioteca de sons, mesmo que algumas das bibliotecas mais velhas também pudessem ser usadas. Pesava ‘’apenas’’ 55 kg e usava fitas de 3/8 de polegada com três sons em cada uma. Foi um modelo muito bem-sucedido, com mais de 1.800 teclados vendidos.

O M400 foi utilizado na estrada e no estúdio durante a década de 1970 por Led Zeppelin, Pink Floyd, Genesis, Yes, Deep Purple, Aerosmith, Wings, David Bowie e outros. Durante os anos 80, o Mellotron caiu no esquecimento e permaneceu praticamente inutilizado, mas experimentou um renascimento durante a década de 1990, quando inúmeras bandas e artistas começaram a reutilizá-lo; Red Hot Chili Peppers, Lenny Kravitz, Primal Scream, Oasis, Radiohead, Air, U2, Monster Magnet, REM, Smashing Pumpkins e Manic Street Preachers. Depois de 2000, o Mellotron ganhou ainda mais popularidade e tem sido usado em batidas por Dido, Nelly Furtado, Daniel Powter, Robyn, The Black Eyed Peas e The Strokes, para citar alguns.

 

 

 

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