Keith Emerson – morre o performático tecladista


KeithemersonMorto em 10 de março, Keith Emerson escreveu seu nome na história como um dos mais importantes tecladistas de todos os tempos

A história da música, seja ela denominada “erudita” ou “popular”, apresenta épocas de grande produtividade, com produção de alta qualidade, talvez resultado de uma mesma força motriz e um desejo incontrolável de superação – das dificuldades, dos outros e de si mesmo. Essas épocas ficam marcadas na linha do tempo, recebem um nome e, rapidamente, são sepultadas por outro movimento, que contesta o anterior e define novos caminhos para as artes, notadamente a música. Foi assim com o chamado rock progressivo.

Fruto da união entre a energia do rock e a técnica intelectualmente mais desenvolvida da música clássica, o progressivo desbravou um novo mundo repleto de sonoridades, texturas, ambientes e, sobretudo, virtuosismo. A superação dos limites e das possibilidades de execução dos instrumentos musicais marcaram um dos movimentos mais ricos da história da música. Território preferido dos tecladistas, o rock progressivo deixou heróis e criou referências. Alguém consegue criar uma lista dos maiores tecladistas de todos os tempos sem citar a tríade sagrada Wakeman-Lord-Emerson? Jon Lord nos deixou em 2012, aos 71 anos. Há poucos dias, o mundo se despediu de Keith Emerson, também aos 71 anos, que, aparentemente, suicidou-se.

Fundador de uma das mais importantes bandas de rock de todos os tempos – o Emerson, Lake & Palmer – Keith Emerson era pianista e foi o primeiro músico a levar um sintetizador MOOG Modular para o palco, fato que intrigou seu inventor o Dr Robert Moog. O contato de Emerson com o Dr Moog levou ao aperfeiçoamento dos sintetizadores Moog e consequente expansão do mercado de instrumentos musicais eletrônicos.

 

História

Nascido na Inglaterra, Emerson estudou piano clássico, mas, ao ouvir o tecladista de jazz Jack McDuff tocar “Rock Candy” em um órgão Hammond, acabou escolhendo esse instrumento quando entrou para o grupo T-Bones, ainda nos anos 1960. No final dessa década, fundou a banda The Nice, com o guitarrista O’List, o baixista e vocalista Lee Jackson e o baterista Brian Davison, tendo como principal sucesso uma versão instrumental de “America”, de Leonard Bernstein.

No começo de 1970, Emerson termina com o The Nice e se une ao seu amigo Greg Lake. Juntos, tiram o baterista Carl Palmer da banda Atomic Rooster e formam o Emerson, Lake & Palmer. “Eu queria criar uma banda de três peças com o maior som possível, uma espécie de orquestra elétrica de três homens”, afirmou em uma entrevista em 2002. “Tínhamos um reportório ambicioso de temas rock feitos a partir dos clássicos de Bach, Bartok, Janacek, Mussorgsky e Ginastera, intercalados com o blues, o boogie e o rock’n’roll”. Jimi Hendrix procurou participar do grupo, mas morreu antes de entrar na banda.

A banda deu o que falar logo no ano em que estreeou. Quando se apresentaram no festival Isle of Wight não passaram despercebidos e conseguiram logo ali um contrato com a Atlantic Records. Nesse mesmo ano, saía o disco homônimo – o primeiro de quatro que o Emerson Lake & Palmer lançariam em quatro anos. Seguiu-se, em 1971, Tarkus – cujo tema de abertura tinha a duração de mais de 20 minutos, com destaque para as proezas de Emerson aos teclados –; Trilogy, em 1972; e Brain Salad Surgery, em 1973 – é neste disco que foi gravada a faixa “Karn Evil 9.”, com quase 30 minutos e que contou com a ajuda de Emerson na composição. Em 1979, com mais três discos lançados, a banda anunciou seu fim. Nas décadas seguintes, voltariam á ativa por diversas vezes, editando mais dois discos de originais: Black Moon (1992) e In the Hot Seat (1994).

Keith Emerson aventurou-se em uma carreira a solo com uma série de trabalhos, incluindo trilhas sonoras para cinema e televisão. É dele a música de filmes como Inferno (1980), de Dario Argento, do thriller com Sylvester Stallone Nighthawks (1980), do filme de terror The Church (19889), de Michele Soavi, ou mais recentemente Godzilla: Final Wars, de 2004.

O interesse por jazz e suas harmonias lhe deu inspiração para criar seu próprio estilo, que combina música erudita, jazz e temas do rock. Era conhecido por sua virtuosidade e por suas apresentações ao vivo, em que “fritava” teclas específicas de seu órgão Hammond durante seus solos, tocava o órgão de cabeça para baixo enquanto o instrumento ficava em cima dele, e fazia que o piano ficasse girando enquanto o tocava.

Seu estilo agressivo de tocar, no entanto, lhe rendeu uma série de complicações. Em 1993, submeteu-se a uma cirugia de enxerto nervoso na mão direita, acometida por uma doença degenerativa. Ao que tudo indica, o problema não foi resolvido e se agravou. A depressão causada pela impossibilidade de repetir as grandes performances do passado pode ter aumentado nos últimos tempos, em que uma turnê, considerada pelo músico como a última de sua carreira, se aproximava. Keith Emerson foi encontrado morto com um tiro na cabeça, no dia 10 de março, em sua casa, em Santa Mônica.

 

Bob-and-emerson-web_zps5553d311Legado

Além de ter sido um gênio das teclas, ícone da mistura explosiva de rock com música erudita – tônica do progressivo – e virtuose performático, que tirou as teclas dos bastidores e trouxe para a frente do palco, Keith Emerson colaborou decisivamente com Robert Moog no desenvolvimento daquele que se tornaria modelo para a indústria de instrumentos eletrônciso até hoje, o sintetizador MOOG.

 

 

 

 

 

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