Jean Michel Jarre – O gênio dos megashows


pic1Pioneiro no uso e no desenvolvimento de novas tecnologias para a produção musical e o show business, Jean Michel Jarre escreveu seu nome na história como o mais audacioso tecladista de todos os tempos

“A primeira vez que vi Jean Michel Jarre foi na TV. E foi impactante: um teclado de teclas enormes que acendiam ao toque, um show gigante cheio de pirotecnias, iluminação laser (grande novidade para a época), teclados para todos os lados, harpa laser, banda, orquestra e coral. E um tecladista no meio de tudo isso, comandando aquele megashow. Foi de tirar o fôlego. Eu, mero estudante de piano na época, estava começando a me interessar por teclados e fiquei realmente impressionado. Meu primeiro pensamento: ‘Quer dizer que posso fazer tudo isso com teclados? Então é isso que vou fazer!’ Naquele momento, minha cabeça pré-adolescente se encheu de sonhos e ganhei forças para entrar nessa onda. (Cristiano Ribeiro, tecladista).

Foi assim que o francês Jean Michel Jarre conquistou uma geração de novos tecladistas, além dos tradicionais fãs. Graças a ele, muitos começaram a prestar atenção às possibilidades que os teclados oferecem. Ele não é nenhum supertecladista que toca temas mirabolantes cheios de solos difíceis e harmonias dissonantes. Nada disso! Seu foco sempre foi o de criar climas. Sua música soa propositalmente repetitiva, com poucos acordes e temas simples (embora geniais). Ele surgiu apresentando uma sonoridade nova, cheia de efeitos e texturas criadas a partir de sintetizadores, propositalmente eletrônico, no final dos anos 70 e começo dos 80. Era uma visão do futuro da música. E ainda hoje soa como tal.

Jarre foi um grande popularizador da música eletrônica. Pesquisou e explorou o mundo dos sintetizadores como poucos e revelou um universo de timbres. Seu acervo de sintetizadores é considerado uma das maiores coleções existentes. Alguns tacharam sua música como New Age, mas ele nunca recebeu bem esse título. Apesar de
existirem vários artistas na música eletrônica, Jarre, sem dúvida, é um dos maiores ícones do estilo, pois alcançou projeção como poucos. Muitos o criticam, afirmando que seu trabalho é simplório. Questionam até o real funcionamento da harpa laser, pois dizem não seguir uma escala lógica ao toque, sendo cogitado que ele estaria
dublando ou tocando sequências de notas pré-programadas, independentemente de qual feixe de laser acionado. Mas ninguém pode negar o tamanho de seu sucesso e o quanto ele influenciou músicos por todo o mundo. E quanto mais esses detalhes são discutidos, maior a aura de mistério que o ronda, assim como seu sucesso.

 

A City in Concert

HoustonO show Rendez-Vous – A City in Concert, em Houston, Texas, foi um marco na carreira do músico. Como o próprio nome diz, foi uma cidade em concerto. Por um longo período figurou no Guinness Book of Records como o maior show ao ar livre, com público de mais de um milhão de expectadores. Na ocasião, Jarre foi convidado para tocar nas
comemorações dos aniversários de 150 anos da cidade de Houston e 25 anos de fundação da Nasa. Durante o planejamento do concerto, o músico conheceu Ron Macnair, um dos astronautas, que também era saxofonista. Juntos, tiveram a ideia de registrar, em áudio e vídeo, uma performance de Macnair tocando durante o que seria seu próximo vôo no ônibus espacial Challenger, a ser realizado em data próxima à do show. O registro seria reproduzido em um telão gigante, acompanhado por Jarre e sua banda. Antes da decolagem, Macnair telefonou para Jarre, fez os últimos acertos sobre a gravação e pediu para que ele assistisse à partida da nave. No mesmo dia, o mundo ficou estarrecido ao ver a Challenger explodir em pleno ar durante a decolagem. Foi um grande choque para Jarre, que a essa altura já tinha uma boa amizade com o músico astronauta. Abalado, o francês decidiu cancelar o show. Mas o pessoal da Nasa pediu que voltasse atrás em sua decisão e, com o concerto, homenageasse os astronautas mortos no acidente. Jarre aceitou e, por conta da grande comoção, esse se tornou um de seus maiores espetáculos.

 

https://www.youtube.com/watch?v=q24thWDKAbQ

Vários obstáculos foram enfrentados: a cidade era castigada por fortes tempestades e ventos que chegaram a destruir parte do equipamento montado no palco e houve tentativas de boicote do FBI que reclamou de problemas em monitorar a visita do então Coronel Muammar al-Gaddafi à cidade por causa da superprodução do show, entre muitos outros. Mas A City in Concert não era seu primeiro grande espetáculo e desafio. Em 1979, Jarre já detinha o recorde de maior público por conta de um show realizado na Praça da Concórdia, em Paris, ao qual se seguiram outros três, que também quebraram recordes e serviram de base para o grande concerto em Houston.

 

Carreira

400545345_449fa1be7d_oNascido em 24 de agosto de 1948, filho do grande compositor Maurice Jarre, Jean Michel foi criado por sua mãe, France Pejot, uma militante da Resistência Francesa. Seu pai separou-se da família em 1953 e foi viver nos Estados Unidos. Jean começou seus estudos de piano aos 5 anos de idade e, ainda pequeno, mudou-se para a capital francesa
e foi matriculado no Conservatório de Paris, mesmo lugar onde seu pai estudou. Em 1964, montou sua própria banda, o Mystère IV e três anos mais tarde, já na formação do The Dustbins, ganhou o primeiro lugar em um festival de musica em Paris e gravou um single. Em maio de 1968, esteve presente nas passeatas do movimento estudantil e chegou a ser preso pela polícia com um grupo de estudantes. Abandonou o Conservatório de Paris e encontrou o homem que iria mudar sua visão sobre música e tecnologia: Pierre Schaeffer, o “pai da música concreta” e mestre em técnicas eletroacústicas musicais do Groupe de Recherches Musicales (Grupo de Pesquisa Musical), coletivo de compositores criado em 1958 que teve entre seus componentes Luc Ferrari, François-Bernard Mâche, Iannis Xenakis e Bernard Parmegiani, entre outros.

Em 1971, Jarre abandona o GRM e passa a trabalhar em outros projetos. Cria música eletrônica para o grupo Triangle e escreve trilhas para o Balé AOR, tonando-se um dos primeiros músicos a introduzir música eletrônica em um Balé na Ópera de Paris e o mais jovem a tocar ali. No ano seguinte, inicia carreira independente, produzindo artistas, criando Jingles comerciais e lançando singles, e acaba conhecendo Francis Dreyfus, com quem compõe e grava várias trilhas como Deserted Palace e Les Granges Brulées.

O primeiro álbum de Jarre, Oxygene, lançado em 1976, é totalmente instrumental com o uso de sintetizadores, e
foi gravado em seu home studio. Rapidamente alcançou o sucesso na França e, em pouco tempo, por todo o mundo. Recebeu vários prêmios como o Grand Prix Du Disques, da Charles Cross Academy. Vendeu mais de 18 milhões de cópias e é considerado um dos maiores sucessos da indústria fonográfica francesa. Em 1997, foi lançado Oxygene 7–13, uma sequência de Oxygene, em comemoração aos 20 anos do disco. Em 2007, Jarre regravou o álbum usando os mesmos instrumentos, porém em um estúdio mais moderno. O material foi lançado em CD e DVD e rendeu uma turnê comemorativa de 30 anos de Oxygene. Para homenagear esse trabalho, o músico utilizou instrumentos da época em shows de formato mais “intimista”. No lugar de teclados cenográficos como o de teclas gigantes, usou bons e velhos analógicos como Memory Moog, EMS, Arp, Eminent 310 e Fairlight CMI, entre vários outros. Oxygene é citado por muitos críticos como o maior sucesso de Jarre.

Em 1978, é lançado Equinoxe, composto por Jarre de modo a retratar um dia na vida de um ser humano, desde a manhã até a noite. O álbum vendeu mais de 10 milhões de cópias. Lançado em 1981, Magnetic Fields, inspirado nas obras de Andy Warhol, foi o primeiro registro de uso de samples como elemento musical em sua carreira. Em seu terceiro álbum, o francês buscou novas sonoridades registrando sons do cotidiano, como frases e palavras, e da natureza. Esse experimento serviu de base para o disco Zoolook, de 1984. Consolidado como artista internacional, Jarre seguiu lançando vários sucessos como Rendez-Vous, Revolutions, Waiting For Cousteau, Téo & Téa e outros.

172333_nagy_jean_michel_jarreInteressante notar como sua carreira acompanha a tecnologia no uso de instrumentos. Em Revolutions, por exemplo, se nota um grande número de teclados digitais como D50, D550, Akai MP60, Ensoniq ESQ1, Kawai K5, Dynacord ADD One. Apesar disso, não se afasta de seu enorme acervo de analógicos em que constam EMS VCS 3, ARP 2600, ARP 2500, Memory Moog (sempre frequente em seus shows), RMI Keyboard Computer, Eminent 310 e Mellotron.

A crítica o persegue, dizendo que nos últimos anos o músico não tem lançado nada inovador em sua carreira. No entanto, os fãs o amam, afirmando que Jarre estabeleceu uma carreira artística consolidada e inquestionável.

Como ninguém fica parado, Jean Michel Jarre, o mestre da música eletrônica, finalmente anunciou a data de lançamento e o título do novo trabalho. Chamado E-Project, o tão aguardado álbum – o primeiro desde Téo & Téa, de 2007 – trará 16 faixas em colaboração com vários artistas e grupos, entre eles M83, Massive Attack, Tangerine Dream e Gesaffelstein, cujas faixas já foram divulgadas. “Tenho vontade de contar a história da música eletrônica do meu ponto de vista e de minhas experiências, desde quando comecei até hoje”, disse Jarre. “Então, planejei colaborações com vários artistas que estão direta ou indiretamente ligados à cena das últimas quatro décadas durante as quais me dediquei a fazer música eletrônica. São artistas que admiro pela sua contribuição única para o nosso gênero, que representam uma fonte de inspiração para mim porque também têm um som imediatamente reconhecível. No início, não tinha ideia de como fazer evoluir este projeto, mas estava feliz porque todos os artistas que contatei aceitaram meu convite”. O lançamento está marcado para o dia 16 de outubro, mas a pré-venda já está aberta.

 

 

 

 

 

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