Leslie e Hammond – unidos para sempre


A sonoridade do Hammond – que adoramos ouvir nas gravações de jazz, blues e rock – não é produzida apenas pelo som do órgão: a amplificação e o efeito que uma caixa Leslie adiciona ao som do instrumento são partes intrínsecas da identidade sonora desse órgão

06 Leslie DonA caixa Leslie é um amplificador de duas vias que, além de amplificar o som, também o modifica por meio de motores que o fazem circular, utilizando um princípio que a física chama de efeito Doppler. Essa caixa amplificada leva o nome de seu inventor, Donald Leslie. O norte-americano trabalhava com vendas e manutenção de órgãos Hammond, mas estava desapontado com a amplificação que, segundo ele, não correspondia à proposta de emular o som de um órgão de tubos. Nos anos 1930, começou a construir suas caixas e descobriu que o som em movimento giratório apresentava um efeito melhor para simular o posicionamento diferente dos tubos de um órgão acústico.

Hammond não se interessou em fabricar ou vender suas caixas, então Leslie as fabricou e comercializou. O primeiro modelo, feito em 1941, tornou-se sucesso comercial e foi usado por organistas de jazz dos EUA. A Leslie também foi utilizada com guitarras: os Beatles a usaram nas gravações de Revolver, em 1966. Leslie vendeu sua fábrica para a CBS em 1965, que depois a repassou para a Hammond em 1980. Nos anos 1990, a Hammond e a Leslie foram adquiridas pela empresa japonesa Suzuki Musical Instrument Corporation.

02 Leslie SpeakersCaracterísticas
A comunicação entre o órgão e a caixa Leslie é feita por meio de um conector de seis pinos (nos modelos mais antigos) ou nove pinos (nos mais novos). Caixas modernas usam conectores de onze pinos. O som original do órgão que é enviado à caixa é separado por um crossover que remete as frequências para diferentes alto-falantes.

O único controle comum aos vários modelos de caixas Leslie é o de volume que, uma vez acertado, é mantido, de maneira que o pedal de expressão do órgão faça o controle do volume durante a execução. O overdrive – que inicialmente era evitado e depois passou a ser um efeito desejado e usado pelos organistas – é obtido pelo aumento excessivo do volume das caixas, amplificadas por um amplificador valvulado.

O controle tradicional da Leslie é realizado por meio de um dispositivo em formato de meia-lua fixado na parte frontal esquerda do Hammond. Um interruptor permite escolher entre as velocidades dos motores dos falantes e, dependendo do modelo, pode haver ajustes de desligado e “tremolo”, “chorale” e “tremolo”, ou “chorale”, parado (“brake”) e “tremolo”. Alterar os ajustes entre movimento lento (“slow”) e rápido (“fast”), permite ao organista adicionar uma dramaticidade única ao som do órgão.

3513802938_92211c8c3aExistem vários modelos de caixas Leslie. O mais popular é o 122, projetado especificamente para ser usado com o Hammond. Seu gabinete tem as dimensões de 104 x 73 x 53 cm e pesa cerca de 70 quilos. Possui motores independentes para “chorale” e “tremolo” e um amplificador valvulado de 40 watts. É o mais adaptado para ser gravado, pois possui sinal balanceado que elimina ruídos. O modelo 122RV tem as mesmas especificações, mais um amplificador de reverb. Como a Leslie modifica o som, além de amplificá-lo, a saída não pode simplesmente ser ligada a um PA, principalmente se a potência for baixa (o que acontecia nos modelos mais antigos). Assim, microfones devem ser colocados ao redor da caixa, e esses são ligados ao PA. Em estúdios de gravação, um set muito recomendado para um registro de qualidade do Hammond com Leslie, são dois microfones Shure SM57 na corneta e um Sennheiser MD421 na bateria de grave, embora existam outras possibilidades.

05 Leslie micsInteressante que, em oposição ao slogan da Hammond, “Music’s Most Glorious Voice” (“a voz mais gloriosa da música”), Leslie usou um slogan semelhante: “Pipe Voice of the Electric Organ” (“voz de tubo do órgão elétrico”). Ele chegou a fazer aproximadamente cinquenta patentes de caixas e além dos órgãos Hammond, trabalhou com outras marcas, incluindo Wurlitzer, Conn, Thomas e Baldwin. Leslie nunca demonstrou uma predileção especial pelos órgãos Hammond e certa vez  teria dito: “I hate those damn things” (“odeio essas coisas insignificantes”). Vaidades humanas à parte, esses dois gênios criaram uma sonoridade magnífica, que não morrerá nunca, por  causa das possibilidades timbrísticas e pela expressividade que possui. (José Osório de Souza)

 

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