Centro de Música Brasileira apresenta duos flauta e piano e canto e piano


Paulo Gori

Paulo Gori

No dia 22 de agosto, sábado, às 20h, o Centro de Música Brasileira (CMB) apresenta dois duos: flauta e piano com Celina Charlier e Paulo Gori e canto e piano com Patricia Endo e Dante Pignatari, na Sala Cultura Inglesa do Centro Brasileiro Britânico, em Pinheiros

A proposta da Temporada 2015 do Centro de Música Brasileira é diversificar em cada apresentação a variedade de compositores eruditos brasileiros, os instrumentos, a região de cada músico e as diferentes formações. O CMB é uma sociedade civil sem fins lucrativos e foi fundado em São Paulo em 18 de dezembro de 1984 e iniciou suas atividades em 1985. Já realizou 306 apresentações em São Paulo, e um total de 47 em cidades do interior dos Estados de São Paulo e Minas Gerais. Promoveu nacionalmente vários concursos de interpretação: 7 de Canção de Câmara Brasileira; 5 de Músicas Brasileiras para Piano e 2 de Músicas Brasileiras para Flauta. Atualmente é presidido pela pianista Eudóxia de Barros.

Na primeira parte do programa, a flautista Celina Charlier e o pianista Paulo Góri farão o recital “Música Brasileira para flauta e piano da Belle Époque à Vanguarda” em Homenagem aos 50 anos da “1ª Brasiliana” de Osvaldo Lacerda.

A cantora Patrícia Endo e o pianista Dante Pignatari farão o recital Alberto Nepomuceno e a invenção da canção brasileira. Entre os poetas há canções com textos de Machado de Assis e Olavo Bilac.

 

Programa

Primeira parte: “Música Brasileira para flauta e piano da Belle Époque à Vanguarda”

Homenagem aos 50 anos da “1ª Brasiliana” de Osvaldo Lacerda
Celina Charlier – Flauta
Paulo Gori – Piano

Programa
Osvaldo Lacerda – Brasiliana nº 1* (1965)
– Dobrado
– Modinha
– Mazurca
– Marcha de Rancho
Osvaldo Lacerda – Ostinato para flauta solo** (1995)
Gilberto Mendes – Sinuosamente, Veredas*** (1995)
Pattápio Silva – Primeiro Amor
Ronaldo Miranda – Alumbramentos (2009)
Ricardo Tacuchian – Litogravura (2007)
Edmundo Villani-Côrtes – Fantasia Sakura**** (2003)
Ernesto Nazareth – Apanhei-te, Cavaquinho!

Segunda parte: “Alberto Nepomuceno e a invenção da canção brasileira”
Patricia Endo – canto
Dante Pignatari – piano

Programa
Osvaldo Lacerda – Murmúrio (texto de Cecilia Meireles)
Alberto Nepomuceno – Olha-me (texto de Olavo Bilac)
Alberto Nepomuceno – Coração triste, Op. 18 nº 1 (texto de Machado de Assis)
Alberto Nepomuceno – Trovas, Op. 29
– nº 1: Com expressão (texto de Osório Duque Estrada)
– nº 2: Scherzando (texto de Carlos Magalhães Azeredo)
Alberto Nepomuceno – Candura (texto de Rabindranath Tagore)
Alberto Nepomuceno – Xácara, Op. 20 nº 1 (texto de Orlando Teixeira )
Alberto Nepomuceno – Despedida, Op. 31 nº 1 (texto de C. M. Azeredo)
Alberto Nepomuceno – Canção da ausência (texto de Hermes Fontes)
Alberto Nepomuceno – Turquesa, Op. 26 nº 1 (texto de Luis Guimarães Filho)
Alberto Nepomuceno – Soneto (texto de Coelho Netto)
Alberto Nepomuceno – Cantigas (texto de Branca de Gonta Colaço)
Alberto Nepomuceno – Canto nupcial (do Livro de Ruth, I/16-17)
Alberto Nepomuceno – Medroso de amor, Op. 17 nº 1 (texto de Juvenal Galeno)
Alberto Nepomuceno – Numa concha (texto de Olavo Bilac)

 

Alberto Nepomuceno e a invenção da canção brasileira

As canções para voz e piano de Alberto Nepomuceno (1864-1920), cerca de setenta peças compostas entre 1887 e 1920, são um dos mais importantes fundamentos da música brasileira do século XX. Da Ave Maria, sua peça de estreia, a A Jangada, escrita no leito de morte, a trajetória delineada pelas canções de Nepomuceno revela um propósito claramente definido: a criação de uma música brasileira.

O principal vetor que norteia a criação dessa música brasileira a que se propôs Nepomuceno é a língua e sua musicalidade intrínseca, o que determinou que a canção fosse seu laboratório, onde a música europeia seria flexionada pela poesia nacional, abrasileirando-se no processo. Embora o folclore e a música popular urbana tenham sido uma de suas fontes de inspiração, o nacionalismo musical de Nepomuceno é de ordem diversa do que seria defendido posteriormente pelos modernistas. Para ele, a via para a constituição de uma música brasileira não era a da apropriação do folclore nacional, ou não apenas isso. Nepomuceno acreditava que a música brasileira deveria ser extraída do idioma português falado e cantado no Brasil, já que a relação íntima que se estabelece entre texto e música numa canção faz com que o idioma inevitavelmente molde a melodia. Nepomuceno nacionaliza a música utilizando sistematicamente textos em português em suas canções, e nesse exercício vai flexionando as tradições musicais europeias e cria o primeiro cancioneiro erudito brasileiro.

Elementos eruditos e populares já se vinham misturando na música brasileira desde o início do século XIX, especialmente e de maneira mais notável nos gêneros semieruditos de salão que culminam nos tangos brasileiros de Ernesto Nazareth; com sua mistura improvável de lundu e Chopin, eles são emblemáticos nesse sentido. Na canção, temos a modinha, que surge como gênero musical no final do século XVIII e une elementos populares ibéricos e recursos melódicos e vocais da ópera italiana. Há registros do grande sucesso que as modinhas brasileiras fizeram na corte por essa época, especialmente pela musicalidade que as distinguia da moda portuguesa e que, portanto, já as caracterizava como brasileiras.

A síntese de popular e erudito, de nacional e internacional que caracteriza a produção musical do Brasil, se dá pela primeira vez de maneira consciente, intencional e continuada nas canções em português de Alberto Nepomuceno. Em suas criações para voz e piano observamos uma mescla, um amálgama de elementos díspares que, catalisado pelo idioma, resulta num estilo único e inequivocamente brasileiro.

O cancioneiro incorpora uma grande variedade de procedimentos e de elementos constituintes. É o caldeirão onde o compositor foi vertendo diversos ingredientes de procedência diversa: modinha, música ibérica, ópera italiana, recitativo wagneriano, música popular urbana e folclórica, romantismo alemão, vanguarda francesa e, acima de tudo, a língua portuguesa falada e cantada no Brasil, para dele fazer jorrar um dos mais importantes mananciais que vão irrigar a criação da canção brasileira nas primeiras décadas do século XX.

 

Celina Charlier

Celina Charlier

Celina Charlier

Bacharel em Flauta pela UNESP, Mestre em Flauta e PhD em Flauta pela New York University, desde 1989 Celina tem tocado profissionalmente como solista, camerista e musicista de orquestra: concertos sinfônicos, recitais de música de câmara, solos com orquestra, recitais de flauta solo, ópera, teatro musical, ballet, shows de música popular, concertos didáticos para crianças, música incidental para teatro, trilhas de filme, desenhos animados, role playing game, e produções artísticas multimídia através da internet, com um repertório que abarca da Música Antiga à música contemporânea de vanguarda, incluindo gêneros brasileiros. Celina tocou mais de 60 primeiras audições mundiais de músicas para flauta compostas especialmente para ela. Participou da gravação de inúmeros CDs, e tem 4 CDs: “Villani in the Village” (o primeiro CD dedicado inteiramente à música de Edmundo Villani-Côrtes) e “Duo Charlier-Peiris Plays VILLANI 80”, ambos gravados em Nova York; “Telemann Gem Session”, dedicado à música barroca, e “Dia de Lua”, de MPB romântica contemporânea. Radicada há 15 anos em New York, Celina tem intensa carreira como concertista internacional, apresentando-se no Brasil, Argentina, Itália, Malta, França, Estados Unidos, Sri Lanka e Emirados Árabes. Atualmente, dividindo seu tempo entre New York e Abu Dhabi, Celina é “artist in residence” na St Joseph’s Church, a igreja católica mais antiga de Manhattan e é Professora Titular de Música na novíssima New York University Abu Dhabi, onde está criando e dirigindo todo o programa de performance musical da primeira universidade global. Além de flautista e professora, também atua profissionalmente como regente e arranjadora.

 

Paulo Gori

Um dos mais importantes pianistas de sua geração, foi em 1978 o primeiro brasileiro premiado no prestigioso Concurso Internacional de Piano Rainha Elisabeth em Bruxelas, dois anos após sua premiação no Concurso Internacional de Piano de Santander “Paloma O’Shea” na Espanha. Em suas apresentações pela Europa incluíram-se concertos com orquestras como a Bach Solisten da Alemanha, a Orquestra Nacional da Bélgica, entre outras, além de recitais e concertos de música de câmara.
Tem se empenhando na divulgação da música brasileira, resgatando obras fundamentais ausentes das salas de concerto, como as “Fantasias Brasileiras” para piano e orquestra de Francisco Mignone, ou o Concerto para piano e orquestra de Souza Lima. Foi também responsável pela première mundial da 2ª Sonata para piano de Villani-Côrtes em 2002, e da 1ª Suíte Brasiliana de Osvaldo Lacerda em 1966.
No concerto comemorativo aos 65 anos da OSB – Orquestra Sinfônica Brasileira -, foi solista no 4º Concerto de Saint-Saëns no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a batuta de Ira Levin.
Artista versátil e dono de vasto repertório abrangendo até o modernismo, abriu com recital solo executando obras de Schoenberg, Webern, e Berg o “Ciclo Contrapontos Vienenses” da Sala Cecília Meireles no Rio de Janeiro.
Lançou três CDs em parceria com o célebre violista húngaro-brasileiro Perez Dworecki: “O Canto da Nossa Terra” e “Gaiato”, este indicado ao Prêmio Tim de Música 2005, e “Bach & Vivaldi” lançado em 2007.
Atualmente vem se dedicando ao projeto da execução integral dos 24 “Prelúdios” de Claude Debussy, obra que vem apresentando em recitais pelo país.
No Equador fez a estreia nacional do Concerto nº 4 para Piano & Orquestra de Villa-Lobos com a Orquestra Sinfônica Nacional do Equador sob a regência do Maestro Jorge Oviedo.

 

Patricia Endo

Iniciou seus estudos com a mãe, a soprano Regina de Boer. Após contracenar com Plácido Domingo no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, passou a estudar com Rita Patané em Nova York e Luino (Itália). É bacharel em canto pela Faculdade Carlos Gomes, com cursos de aperfeiçoamento na Alemanha e na Hungria. Foi finalista do Concurso Rainha Elisabeth da Bélgica e em 1993 recebeu o prêmio Bidu Sayão. Mora em Milão desde 1999, onde segue seu aperfeiçoamento com Biancamaria Casoni. Aclamada pelo público e pela crítica, já se apresentou nos principais teatros e salas de concerto do Brasil e realiza turnês pela Europa com regularidade, sempre privilegiando o repertório brasileiro.

 

Dante Pignatari

Formou-se em piano pela ECA-USP com Caio Pagano, completando sua formação no instrumento com Daisy de Luca no Brasil e Jorge Federico Osorio (México) em Londres, onde obteve um MA (mestrado) em Music Performance Studies. O doutorado foi defendido na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, com a tese Canto da Língua: Alberto Nepomuceno e a invenção da canção brasileira, a ser publicado em breve pela EDUSP. Já se apresentou em capitais brasileiras, Inglaterra, Espanha e Alemanha, ministrou cursos livres e palestras-concerto em inúmeras instituições de São Paulo, e curadorias para a Caixa Federal, Centro Cultural Banco do Brasil e SESCs. Trabalhou na produção, edição e apresentação de programas para a Rádio Cultura FM de 1996 a 2005. Em 1997, coordenou e foi o pianista do projeto poesia paulista-doze canções, que resultou no CD do mesmo nome. Em 2004, editou as Canções para voz e piano de Alberto Nepomuceno (EDUSP). Atualmente é curador de música do Centro Cultural São Paulo.

 

Serviço – Centro de Música Brasileira (CMB)

Duo Celina Charlier (flauta) e Paulo Gori (piano)
Duo Patricia Endo (canto) e Dante Pignatari (piano)
Dia 22 de agosto, sábado, às 20h
Apoio Cultural: Cultura Inglesa de São Paulo.
Local : Sala Cultura Inglesa do Centro Brasileiro Britânico (160 lugares)
Rua Ferreira de Araújo, 741
Pinheiros – São Paulo
Tel: (11) 3039 0500
Grátis!

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