Ahmad Jamal – A Lenda Viva do Jazz


27_edit“Toque como Jamal!” A frase, em tom de comando, foi dita por Miles Davis e repercute até hoje como cartão de visitas do pianista Ahmad Jamal. Não que ele precise: seus shows continuam repletos de muitas novidades e o músico surpreende com seu estilo único

Apesar de muito influenciado pelos pianistas tradicionais do centro e sul dos Estados Unidos, Jamal nada tem de conservador em seu modo de tocar e improvisar. É com completo domínio de seu instrumento e da linguagem  jazzística que mantém praticamente em êxtase suas plateias durante seus concertos. Longe dos experimentalismos cacofônicos e do virtuosismo improdutivo, o pianista produz música de qualidade, agradável mesmo para os ouvidos menos treinados no universo do jazz. Engana-se, no entanto, quem acredita nessa aparente simplicidade: Jamal apresenta uma consistente base harmônica calcada em blocos de acordes herdados de Erroll Garner, solos modais muito bem acabados reminiscentes do cool jazz e o uso das pausas, do silêncio, como elemento importantíssimo na construção melódica. Seu estilo é marcado por inovações rítmicas e pela construção de figuras melódicas na mão esquerda, destacando-se os ostinatos na região grave, tudo isso regado a um excepcional bom gosto, com o qual explora texturas, riffs e timbres em vez da quantidade de notas.

História
Nascido no dia 2 de julho de 1930, em Pittsburgh (Pennsylvania), Jamal – nome que adotou após a década de 1950 – começou a tocar piano aos 3 anos de idade, desafiado por seu tio a repetir as notas tocadas por ele. Logo depois, começou a ter aulas particulares com Mary Cardwell Dawson, sendo influenciado por diversos estilos, principalmente a música de sua cidade natal e pianistas como Earl Hines e Errol Garner. Aos 7 anos, foi considerado um prodígio e pouco tempo depois começou a estudar com James Miller. Por volta dos 14, começou a excursionar, sendo aclamado por Art Tatum como uma grande revelação. Em 1950, mudou-se para Chicago, e, depois de atuar ao lado de alguns grupos, formou o primeiro trio, chamado Three Strings, ao lado do guitarrista Ray Crawford e do contrabaixista Eddie Calhoun. Como residente no Blue Note de Chicago, o grupo chamou a atenção e ganhou popularidade. Na sequência, já no Embers Club, em Nova York, o trio foi reconhecido pelo produtor John Hammond, que o indicou à Okeh Records.

O formato piano-guitarra-baixo resistiu até 1955, com álbuns gravados para a Parrot e a Epic até que, em 1957, o guitarrista foi substituído pelo baterista Vernel Fournier, o que alterou consideravelmente a sonoridade e o estilo do grupo. Trabalhando no Pershing Hotel, de Chicago, o trio – com Israel Crosby no baixo – lançou o álbum ao vivo But Not for Me, que permaneceu nas listas dos mais vendidos por 108 semanas e apresentou ao público a primeira gravação de “Poinciana”, marca registrada de Jamal. Depois de uma turnê pelo norte da África e uma malsucedida tentativa de manter um clube em Chicago, no início da década de 1960, Jamal mudou-se para Nova York e afastou-se da cena musical por três anos.

Retomou a atividade em 1964, ainda em formato de trio, e manteve carreira constante, gravando mais de 60 álbuns e flertando com o fusion e os instrumentos eletrônicos. Durante toda sua carreira, Ahmad Jamal atuou ao lado de vários músicos incluindo George Hudson, Richard Davis, Israel Crosby, Jamil Nasser, Frank Gant, James Cammack, Dave Bowler, John Heard, Yoron Israel, Belden Bullock, Manolo Badrena, Gary Burton, e Idris Muhammad, entre outros. Como sideman, gravou álbuns ao lado de Ray Brown e Shirley Horn. Entre os vários prêmios com que foi contemplado, destacam-se a nomeação como “Lenda Viva do Jazz” pelo Kennedy Center for the Performing Arts, a medalha de ouro da celebração de 150 anos da Steinway & Sons e sua inclusão no American Jazz Hall of Fame da New Jersey Jazz Society, em 2003.

Transpirando simpatia, Ahmad Jamal recebeu o pianista Alexandre Porto para uma entrevista exclusiva para Teclas & Afins, em que falou sobre influências, música e músicos.

Você parece não se importar tanto com a virtuosidade em seu estilo de tocar. Como vê isso?

Todos de Pittsburgh têm esse estilo. Venho de um lugar muito interessante, berço dos melhores compositores e dos melhores pianistas do mundo, como Dodo Marmarosa, Erroll Garner, Earl Hines, Earl Wild. Temos músicos em todas as categorias, seja da escola europeia ou americana. As pessoas que vem de Pittsburgh são diferentes, assim como George Benson, Kenny Clarke e Art Blakey, entre outros. São todos diferentes. Então, meu modo de tocar é diferente.

Você costuma caminhar no palco quando seus acompanhantes estão solando. Isso também é uma característica sua bem diferente e única…

Você não quer tocar com um baterista que não se mexe! A música está sempre em movimento. Esse meu hábito de andar às vezes pelo palco não é algo que criei. Isso veio como um impulso. No palco, minha música necessita de química, o que leva ao contato com meus parceiros! Já toquei com todas as formações e é necessário conduzir. Mesmo em um duo, é preciso ter química. Seja tocando em duo, trio ou septeto, tem que ter movimento! Independentemente do número de músicos que te acompanham, é necessário conduzir.

Leia o restante da entrevista na revista digital gratuita Teclas & Afins em www.teclaseafins.com.br

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